quarta-feira, 25 de junho de 2014

RECONSTRUINDO IRENE

Nos idos de 2010 escrevi o Irene na Terra. Sem a pretensão de que os pósteros o elegessem como o maior poema da língua portuguesa. Cabia por inteiro numa "tuitada". Além disso, seus três primeiros versos fazem parte de "Irene no céu", de Manoel Bandeira, e o seu quarto (e último) verso conheceu tempos melhores na canção "Irene", de Caetano.
Não era um poema que pudesse fazer frente, por exemplo, ao Maabáratra, de Krishna Dvapayana Vyasa. O poema deste hindu tem 74 mil versos. E se nele formos incluir o "Harivamsa" já sobe para 90 mil versos.
Acontece que, dias atrás, em uma das minhas caminhadas crepusculares por Two Thousand City (Cidade 2000), escutei por acaso uma gravação de Agnaldo Timóteo.
Numa Vitrolex (link não patrocinado), o ex-motorista da Ângela Maria estava a cantar A casa de Irene, versão de um sucesso de Nico Fidenco.
E, nesse instante de grande enlevo, dei-me conta de que tinha um poema inacabado. Então, sem delongas, retornei a ele que assim ficou:
Irene preta
Irene boa
Irene sempre de bom humor
Na casa de Irene a tristeza se vai
- Quero ver Irene dar sua risada.
De forma que o poema prossegue aos poucos: tijolo com tijolo num desenho mágico. E dá para ver que, mesmo sendo comparado aos prolixos poetas indianos, eu continuo competitivo.
Original: EM, 11/03/2011

Desescute
Sabem aquela música chata que a gente não consegue tirar da cabeça? Aquele música que, não importa o que a gente faça, fica tocando sem parar no cérebro?
Pois já existe como removê-la. Descobri isso em minha leitura diária do Gente de Mídia, blog do jornalista Nonato Albuquerque.
A solução é apresentada pelo site Desescute, que propõe substituir a música chata por outra... ainda pior!
O site, para dar sustentação ao método que utiliza, baseia-se em recentes "estudos científicos publicados sobre o fenômeno da impregnação melódico-cerebral".
O controlador do EntreMentes ainda não tem uma opinião formada sobre a eficácia do método.
Ao tentar substituir o "Rebolation", do Parangolé, pelo "Sai da minha aba", do Alexandre Pires, recebeu um pacote promocional com o "Morango do Nordeste", do Frank Aguiar, o "Ilariê", da Xuxa, o "Un, dos, tres, Maria", do Ricky Martin, o "Meu pintinho amarelinho", do Gugu e o jingle "Presidente 89" do Eymael.
Se isso não for uma espécie de operação casada e poligâmica, não sabe mais o que é.
Original: EM, 24/02/2011

quarta-feira, 18 de junho de 2014

INCAPAZ DE UM SACRIFÍCIO

Quando Abraão retornou da terra da Visão, Sara o esperava. Mas a recepção que deu ao esposo não foi nada amistosa.
- Trouxe de volta esse imprestável do Isaac, não foi?
- É que Deus mudou de ideia.
- Você falou com Ele?
- Não, mandou um anjo me dizer isso.
- E por que Deus arrependeu-se?
- Não me foi explicado. Penso que tem a ver com os palestinos... mas não é para logo.
- E aí?
- Sabe a Jezebééé?
- Anda desaparecida.
- Andava. Encontrei-a por lá presa num espinheiro.
- E não trouxe a ovelha?
- Não, imolei-a no lugar do Isaac.
- Homem de Deus, por que fez isso?!
- Não era para agradecer?
- Aquela ovelha, Abraaão, eu vinha criando para uma ocasião especial. Uns anjos que vêm almoçar aqui...
- Não diga?!
- Ô, homem, você é incapaz de um sacrifício!
Silva, PGC - Versículos Satíricos, Editora Mar Morto
Original: EM, 14/01/2011

quarta-feira, 11 de junho de 2014

O PLÁGIO DE NOSSA BANDEIRA

Antes te houvessem roto no Alvorada
Que servires a um povo replicada.
PGCS
Andam a plagiar a bandeira do Brasil. Apesar de ter uma combinação pouco usual de cores, de formas e de um lema exclusivo, o lindo pendão da esperança, o símbolo augusto da paz não é inimitável como se pode ver. Em parte, por não estar sob a proteção de alguma lei autoral.
Vem da Líbia a primeira ameaça nesse sentido. O país africano, conhecido por seus imensuráveis desertos, já está usando em sua bandeira (não sei há quanto tempo) o verde de nossas matas. A simbolizar o verde de seus oásis, ora vejam!
Mas esse retângulo verde é só um balão de ensaio. Se nós, brasileiros, não protestarmos com absoluta firmeza, os líbios acrescentam o resto: o losango amarelo, o círculo azul, as brancas estrelas.... E, arrematando tudo, uma faixa com a seguinte frase: "L'amour pour principe et l'ordre pour base; le progrès pour but".
Riram porque ela ficou extensa? Mas é a frase de Auguste Comte, no original e completa.
Urge: levantarmos a bandeira que vai defender a... bandeira. Pois rumores já dão conta de que eles estão progredindo muito no Paint.
Original: EM, 27/04/2010

quarta-feira, 4 de junho de 2014

SI VIS PACEM, PARA BELLUM

É um erro crasso traduzir a frase acima por "civis, passem-me a parabélum". A parabélum aí, se alguém ainda não sacou, era o nome de uma pistola automática de procedência alemã. Que foi citada pelo cangaceiro Corisco, numa das cenas de "Deus e o Diabo na Terra do Sol", um filme de Glauber Rocha.

- Se entrega, Corisco / Se entrega, Corisco.

- Eu não me entrego não. / Eu me entrego só na morte de parabélum na mão.
(Canção de Sérgio Ricardo, da trilha sonora do filme.)
Mas a exata tradução da frase latina é esta: "Se queres o Nobel da Paz, prepara-te para a guerra."
Por isso, foi que Mister Obama, em seu discurso de agradecimento na solenidade em que recebeu a honraria (em Oslo, Noruega), disse mais vezes a palavra war (44) do que a palavra peace (30).

Rouco de ouvir
E, logo em seguida, mandou limpar a cera dos ouvidos. Uma providência indispensável para quem recebeu a missão de, neste e nos próximos anos, ouvir os clamores de sua gente. Sei não, mas eu continuo a achar que o povo da nação mais guerreira do mundo não é tão inocente assim pela má fama que carrega.
Original: EM, 12/12/2009