quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

SÍSIFO REVISITADO

Na mitologia grega, Sísifo era filho do rei Éolo. Por astúcias cometidas, foi condenado por Zeus a levar uma rocha até o alto de uma montanha. Eternamente, pois toda a vez que o topo da montanha era quase alcançado, a rocha rolava de volta ao ponto de partida. O que obrigava o condenado a ficar repetindo a sua escalada com a rocha, ad aeternum.
Nos dias de hoje, estaria cumprindo alguma pena alternativa. Como:

malhar em ferro frio
dar nó em pingo d’água
escovar urubu até ficar branco
chupar parafuso até virar prego
enxugar gelo com toalha quente
procurar agulha em palheiro
carregar mala sem alça
embrulhar velocípede
dar murro em ponta de faca
descascar abacaxi com o nariz
cercar capote em campo aberto
botar suspensório em cobra
pingar colírio em olho de chinês
subir em pau de sebo
massagear porco-espinho
trocar pneu com o carro andando
devolver pasta de dente para o tubo
abanar carvão molhado em churrasco
montar touro mecânico até cansar (o touro)
etc

Pensando bem, não seria o caso de Sísifo abreviar o nome para Sifu?
Original: EM, 10/08/2007

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

NULLA DIES SINE LINEA

"Nenhum dia sem uma linha (ou traço)."
O lema atribuído por Plínio, o Velho, ao jovem pintor Apeles. Porque Apeles não aceitava a idéia de passar um único dia sem trabalhar.
Bem, com estas eu já fico para lá de quite com o meu blog, hoje.
Apesar de que ainda tem mais.

Apeles era o pintor oficial de Alexandre o Grande. Neste quadro de Tiepolo, de 1740, ele aparece retratando Campaspe, a concubina favorita de Alexandre.
Notem o ar entediado de Alexandre com relação à concubina. Em contraste com o profundo interesse do jovem pintor por Campaspe (muito além do que o trabalho deveria exigir).
Pois é, Alexandre não foi grande só no nome. E logo passou a pequena para os cuidados afetivos de Apeles.
Original: EM, 25/07/2007
Nulla dies... (em outras línguas)
Not a day without a line.
Ningún día sin una línea.
Pas un jour sans une ligne.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

TANTO NÃO

Imagine:
A história de um glutão que, por haver cedido à tentação de comer o que não devia, infringiu as regras de um spa e passou a temer o pior.

Tanto Não

.....................Paulo Gurgel

Foi bonita a festa, spa
Fiquei contente
Inda guardo pro meu dente
Uma fatia do pudim.

Já “micharam” minha bóia, spa
Não foi bacana
Pois sobrava uma banana
Com canela para mim.

Sei que há dieta a me cercear
Tanto não, tanto não
Sei que aqui não é possível, spa
Comer pão, macarrão...

Comi canapés, spa
Saí do sério
Resta o cemitério
Se eu encaro esse alfinim.

Para ver a letra (Tanto Mar, de Chico Buarque) que motivou a paródia, clique aqui. E para ouvir a música, também.
Original: EM, 24/07/2007

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

LUTAR CONTRA A AIDS

Há cerca de vinte anos cometi esta trova:

Lutar contra a AIDS
É a luta mais vã
Mal hoje curamos
A febre terçã.



Uma paródia de versos célebres de Drummond. Compus esta trova, possivelmente, num momento de desencanto com a profissão que um dia abracei. Nenhum médico está livre desse sentimento, quando dá conta de suas limitações. E, no caso da AIDS (SIDA, para a turma do Obvious), por exemplo, sobravam os motivos. Naquela época, fazer esse diagnóstico era como emitir uma sentença de morte.
Felizmente, os homens da ciência não foram nessa. E debruçaram-se sobre seus ensaios clínicos, indiferentes ao pessimismo dos poetas (cujos humores, por sinal, oscilam muito). Resultando disso que muitas drogas foram descobertas. Medicamentos que, quando associados, maximizam-se os resultados terapêuticos.
É verdade que ainda não se tem uma solução definitiva para a AIDS, mas a seus portadores já se oferece uma boa sobrevida – com qualidade!
Original: EM, 04/07/2007