sábado, 27 de abril de 2013

ELVIRA PAGÃ

A deusa que veio nos redimir os pecados,
Pecando - salvação única! - com ela,
Ninfa de fontes imemoriais.
Com olhos de rãs, espiamos:
(Suas roliças coxas explodirão as ligas?).
Podemos saltar para o tablado. Momento qualquer.
Um gesto ambíguo, um grito lascivo, um reflexo no ventre,
Tudo pode ser a senha para a invasão dos desejos.
Seu rebolado alucinante: não paralisá-lo,
Apenas retê-lo, senti-lo
Qual onda vibratória enfim captada
Em nossas frequências.

sábado, 20 de abril de 2013

ABI-LOL

Fazer uma boa reportagem nem sempre é fácil. Por isso é que existem tantas “reporcagens” por aí.
Saí a campo a ver se garimpava uma entrevista com o Abi-Lol. Sabem como ele anda? Depois que lhe atiraram uma pedra, ficou meio cabreiro, achando que isso lhe minou a reputação.
Não sei exatamente quem atirou aquela pedra . A primeira, e as outras que se seguiriam...
Mas, se até as pedras se encontram, por que eu não iria encontrá-lo? Localizei, sim, o bruto. Numa ocasião em que três repórteres já o assediavam, sendo eu o quartzo. Aliás, não sou repórter de verdade.
No princípio, Abi-Lol se mostrou muito exaltado, com quatro pedras na mão e falando que estava tirando leite das pedras. Na certa, uma referência às agruras de ser ministro. Não era preciso exibir um certificado de garantia.
Foi desabafando:
"Olha, ser ministro é passar por um teste de dureza. Figueiredo puxa muito pela turma..."
Ao dizer "turma..." tive a impressão de que o ministro interrompeu a palavra. Talvez quisesse dizer turmalina...
O Abi-Lol, apesar da ascendência turca e de ser casado com uma turquesa, é um brasileiro da gema. Tão brasileiro quanto o Sr. H. Stern.
O fato é que, após lapidadas as arestas, rolou um clima cordial entre nós. Que fez a entrevista fluir por entre os cascalhos.
Pelas tantas, o ministro chegou a cantarolar uma música do Luiz Antônio. Um samba-canção que fala em “joia preciosa, cada um deseja e quer”. Não é do tempo de vocês.
Ao final, trocamos tapinhas nas costas e tapões no rosto.
Prometi que iria pôr uma pedra sobre o assunto. Prometi, mas não cumpri. Dei o seixo.
Trinta anos depois, estou aqui revelando o making-of do nosso encontro. E, mesmo que eu publique a entrevista inteira, não vai ser por conta disso que eu vou deixar de dormir feito uma pedra.

sábado, 13 de abril de 2013

O BRASIL ALTER

A lamentar nunca haver existido o Brasil paralelo. Explico. O Brasil paralelo seria o Brasil de cada alternativa que foi descartada, por decisões históricas ou não.
Imagine o patrício que o Brasil está em um caminho que se bifurca. Naquele instante, ele toma o caminho da direita e... lá vamos nós, como tropeiros das ilusões perdidas, até darmos com os burros n'água. Aí, diante de uma realidade apenas quebrada na frieza, cabe-nos perguntar o seguinte:
Que teria acontecido se o Brasil tivesse tomado o caminho da esquerda? Isto lá seria com o Brasil alternativo, o Brasil Alter. O Brasil que, supostamente, estaria na África porque Pedro Álvares não teria embarcado naquela conversa fiada das calmarias.
Tivemos o "Dia do Fico", sem pesarmos as vantagens do "Dia do Vou Embora ". No Brasil Alter, Dom Pedro I teria ido embora para Portugal porque lá era amigo do rei. Aliás, lá seria o próprio rei.
Na II Guerra Mundial, não optamos por lutar ao lado da Alemanha. O Brasil perderia a guerra, é verdade. Mas, hoje, ombrearíamos em progresso com as nações do Eixo.
Na Copa de 50, para dar outro exemplo. O Brasil vivia o clima do "já ganhou", só esperando a hora de levantar o caneco, ouvir o Hino Nacional e pôr as faixas de monocampeão. Perder o título naquela altura do campeonato era algo impensável. Mas aí apareceu Gighia: Uruguai 2, Brasil 1. No Brasil Alter conquistaríamos o título com o placar de 1 a 0. Com o jogo interrompido aos 24 minutos do segundo tempo devido a um foguete soltado pela avó da Rosenery.
(Por uns míseros cruzeiros, a fogueteira de 1950 depois posaria de maiô Catalina para a revista "Cruzeiro".)
Em 1985, o colégio eleitoral não elegeria o Tancredo. E as bactérias do Hospital de Base, que estavam a fim de um sangue presidencial, teriam de se contentar com o Maluf. Meno male.
Nas grandes decisões tomadas, principalmente quando elas nos levaram à beira de um precipício, faltou simplesmente o Brasil Alter. O país onde nos refugiaríamos em busca de uma sorte melhor.

domingo, 7 de abril de 2013

A CLASSIFICAÇÃO TERNÁRIA DO MUNDO

Três dimensões tem a vida, segundo o Conde Korzybski. Em sua obra "The Manhood of Humanity" (A Idade Viril da Humanidade), Korzybshi cita-as: comprimento, largura e profundidade. A primeira dimensão corresponde à vida vegetal. A segunda, à vida animal. E a terceira dimensão é a que pertence à vida humana.
A vida dos vegetais é uma vida em longitude. A vida dos animais é uma vida em latitude. E a vida dos homens é uma vida em profundidade.
Aqui, para destrinchar o palavrório de Korzybski, ocorre-nos aclarar as três ordens do mundo orgânico - planta / animal / homem - por intermédio das propriedades do espaço: comprimento / largura / profundidade (a última no sentido metafórico de tempo).
Assim, a vitalidade vegetal se define em sua fome de sol. A vitalidade animal, em seu apetite por espaço.
E, sobre essas duas existências, a estática (vegetal) e a errática (animal), a existência humana proclama sua originalidade superior. Mas... em que consiste a suprema originalidade do homem? Consiste em que ele, vizinho do vegetal que armazena energia e do animal que disputa espaço, vivencia o tempo.
É preciso, pois, enfatizar essa terceira dimensão que caracteriza a vida humana. Aprofundá-la. Que o homem volte a capitalizar séculos em vez de capitalizar léguas. Que a vida humana seja mais intensa do que extensa. Amém.
É o que se depreende da classificação ternária do mundo que o Conde nos legou.