quarta-feira, 31 de julho de 2013

APARANDO UNHAS

Da mente doentia de algum tecnocrata surgiu a ideia de obrigar o cidadão com duas fontes pagadoras a fazer cinco declarações de renda por ano fiscal. Como se já não bastasse a declaração de renda anual, suficientemente prolixa para tomar um fim de semana inteiro (ou mais) do declarante.
Choveram protestos, Brasil afora. Foi quando entrou em cena o presidente Sarney.
Na sequência, Ique, do Jornal do Brasil, faz uma charge (imagem) em que aparece o presidente Sarney agachado, aparando as garras desse "trileão". Um cérbero com três cabeças de Mailson, o ministro da Fazenda.
Colhe Sarney os dividendos políticos de sua intervenção, como fez o compadre Zé da anedota.
Compadre Zé botou em casa um bode a fazer estripulias. Durante a semana, o mal-cheiroso animal quebrou objetos, sujou a casa toda, além de empestá-la com os odores que os bodes têm. Quando ninguém aguentava mais o animal, compadre Zé tirou-o de casa sob os calorosos aplausos da família.


Se as leis fossem cumpridas ao pé da letra no Brasil, manicure de vaca poderia ser uma profissão bastante promissora. Um decreto da década de 1950, em vigor até hoje, determina que, para embarcar num vagão ferroviário, as fêmeas da raça bovina devem ter as unhas aparadas. Pois bem, só no setor ferroviário existem 432 regulamentos, e sabe-se que 90 por cento deles são totalmente inúteis. Como o que determina que uma estação ferroviária só pode ser inaugurada com a presença de um ministro do Estado, o qual deverá dar exatos dois apitos de trem.
A profissão de vocês poderia ser promissora, senhoras manicures. Mas... vem aí um pacote de desregulamentação, baixado pelo Palácio do Planalto, que, no prazo de doze meses, revoga 50.853 atos regulamentadores dos mais de 100 mil que foram acumulados em um século de República. No meio deles, o que manda aparar as unhas das vacas que vão pegar trem.

(rascunhado em 1990 / revisado em 2013)


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