sábado, 12 de janeiro de 2013

LUCIDEZ, "COQUEIRÓFILOS"!

Hesitei se devia escrever estas linhas, mas como a questiúncula não parece ter fim, decidi-me então.
A coisa, eu conto como a coisa está sendo: há dias, através da imprensa escrita, falada e televisionada, que estão polemizando sobre mim, aquele coqueiro da Varjota que virá abaixo por uma ordem judicial. O motivo de minha condenação, sabido de todos, foi porque, de quando em quando, eu deixo cair cocos e palhas em telhado alheio. Uma contravenção que deu briga de vizinhos e seguiu-se de uma demanda que, ao final, me sentenciou de morte.
Não, não estou aborrecido. Dou minhas palmas à palmatória verdugo dos homens. Se, coqueiro alto, com o tombo de meus cocos, estou a ameaçar o cocuruto das pessoas, assumo pelo fato a responsabilidade, mesmo que essa posição me signifique a morte. Morrer não dói. Mais do que o meu desplante dói o desplante (perdão pelo trocadilho) dos homens.
Árvore, como tal sempre prezei o anonimato - o sereno anonimato de todo ser clorofilado. Foi assim que, ao longo de minha existência, eu dei frutos, sombra e enchi os olhos das pessoas. Tive (e ainda tenho) mais utilidades do que um canivete suíço. Entretanto, não busco o reconhecimento gratulatório. Muito menos virar celebridade e passar meus dias dando autógrafos a sabiás deslumbrados.
Portanto, friso: não quero pechinchar pela minha vida. Aliás, enfastiam-me duas características humanas:
1.ª - O "bedelhismo". O que tem chovido de propostas ("ponham um funil de arame na copa", "armem uma rede proteção para os cocos" etc.) dos que tentam comutar minha pena foi surpreendente. Eu não sabia haver tantos "coqueirófilos" assim. Mas não quero mudar meu way of life.
2.ª - A hipocrisia. De um (hor)ror de gente que busca promoção à minha custa. Babam-me e eu nem coqueiro-babão sou! Virei uma árvore-símbolo, estão me "jurunizando".
Finalizo. A me transformar numa árvore-símbolo (para a catarse dos complexos de culpa humanos) prefiro a morte. Espírito vegetal, irei vaguear junto aos bilhões de outros iguais a mim na Amazônia. Na Amazônia que ninguém liga, pois todos, ou quase todos estão preocupados com suas ecologias de fundo de quintal.
Portanto, senhores, tragam seus machados para que eu os perfume. Sei também ser sândalo.

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