sexta-feira, 8 de junho de 2012

PRA NÃO CAIR A PETECA

Sr. Redator,
Atualmente, um austero cidadão não pode parar numa banca de revistas sem sofrer constrangimento. Vê-se logo cercado por um assanhado enxame de publicações indecorosas, cujas ferroadas o atingem bem no pundonor.
Dias atrás (só para conferir) resolvi lançar o meu olhar de Santo Ofício em algumas dessas revistas. Quanta concupiscência, meu Deus!
A mais dissoluta delas era, sem dúvida, a "Pato Donald", que mostrava o personagem-título da revista, acompanhado do tio milionário e de seus sobrinhos encrenqueiros, todos eles desnudos ao sul do equador - o bottomless de três gerações, do primeiro ao último quadrinho! E, como se não bastasse, via-se até casos de pura bestialidade. Que nome se pode dar, por exemplo, à paixão da vaca Clarabela pelo cavalo Horácio?
Outra que ia longe na devassidão era a "Geográfica Universal". Trazia reportagens com ilustrações assim: peixinhos ornamentais trocando olhares lânguidos, a ponto de se perceber o que tramavam, os safados... e, ainda, borboletas da ilha de Celebes quentando as asinhas ao sol, as travestidas...
Havia também uma terceira revista, metida a enciclopédia, que, em um só fascículo, eu flagrei as seguintes libidinagens: uma loba romana amamentando em público duas crianças, um obelisco egípcio de conotação fálica e uma "desparreirada" estátua de David em visão frontal.
Prossegui folheando outros títulos: Pernalonga "Gomes", Mônica "Tamancão", Tom "Sado" e Jerry "Maso", e Bolinha "Menina-Não-Entra", tudo, é claro, muito pornô.
Aí, numa medida escapista, fechei os olhos para pôr em off tão nefandas personalidades do mundo-dos-quadrinhos e... pensei naquela que foi a mártir nacional na luta pelos bons costumes: Luz del Fuego. Que ela seja a medianeira de uma esperança minha! A esperança de que o consumo pornográfico tenha já chegado ao ponto de saturação e de que o povo, enfim redimido, volte a vista para publicações mais salutares. Como "Playboy", "Privé", "Lui", "Homem" e "Peteca".
PGCS
Av. Aguanambi, 1953

Publicado em 6 de maio de 1981

Nenhum comentário: