sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

COMPARAÇÕES

MAIS...
... curto do que coice de porco.
... sujo do que poleiro.
... enfeitado do que penteadeira de rapariga.
... fraco do que caldo de bila.
... grosso do que papel de enrolar prego.
... escondido do que orelha de freira.
... por fora do que umbigo de vedete.
... por dentro do que água de coco.
... animado do que pinto no lixo.
... vermelho do que meia de bispo.
... inchado do que um baiacu.
... frio do que bunda de foca.
... feio do que mudança de pobre.
... remendado do que saia de cigana.
... fresco do que mês de julho.
... por fora do que arco de barril.
... quebrado do que arroz de terceira.
... liso do que rapariga na Sexta-Feira da Paixão.
... embolado do que angu de caroço.
... exibido do que carro de sorteio.
... suado do que tampa de chaleira.
... grosso do que dedo destroncado.
... surdo do que uma porta.
... tonto do que o índio amigo do Zorro.
... folgado do que charuto em boca de bêbado.
... velho do que a Sé de Braga.
... melado do que espinhaço de pão-doce.
... revirado do que mala de louco.
... ignorado do que aviso de praia poluída.
... folgado do que bolacha em boca de velho.
... ralo do que sopa de preso.
... chato do que um jogador de frescobol.
... antigo do que a moda da camisola nos anjos.
... furioso do que um touro espanhol.
... devagar do que hora de noivo.
... exposto do que bunda de mandril.
... bem recebido do que dinheiro em fim de mês.
... inútil do que peito de homem.
... beijado do que anel de cardeal.
... desajeitado do que embrulho de velocípede.

A comparação, segundo Hênio Tavares, é o confronto de dois ou mais objetos em que depreendemos algum ponto de contato. E, como tal, é um dos recursos básicos da linguagem humana.
Portanto, não subestimemos a importância da comparação; esta constitui o primeiro passo da metáfora (PGCS).

sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

UM DIA NA VIDA DA IRMÃ LETÍCIA

O Brasil viu pela televisão a Irmã Letícia em sua atuação como refém voluntária na fuga de uns assaltantes de Goio-Erê. E foi graças a ela que o gerente de um banco se livrou de um sufoco que se arrastava há dias. Toda sorridente, a irmãzinha embarcou num avião e, no decorrer do voo, ainda tentou trazer de volta ao rebanho aquelas ovelhas desgarradas. Sem sucesso, é verdade.
O "Planeta Diário" criou três ou quatro quadros para descrever como seria um dia na vida da carismática irmã. Tem o mérito de haver sido o primeiro a mostrar. Porém, a religiosa leva uma vida tão intensa de trabalhos que não passa de uma pálida amostra o que o PD apresentou. A irmãzinha, no mais monótono de seus dias, tem um ritmo tão trepidante que poucos conseguiriam acompanhá-la.
Algo assim:
- A irmã responde uma carta do Green Peace em que se compromete a fechar o buraco da capa de ozônio da atmosfera. Com a parte do corpo que a entidade indicar, fazendo a ressalva para não ser com um dedo. A capa em questão não é dique holandês.
- A irmã se deixa encerrar num saco de gatos maracajás para dar pontos a uma equipe de gincana. E sai do saco lépida e faceira, cantando Dominique, nique, nique para o espanto de todos. Uma equipe participante da gincana ganha 50 pontos e a Irmã Letícia, outros 50 pontos mais vacinação antirrábica.
- O diabo transporta Irmã Letícia para uma colina onde lhe promete doar tudo o que a vista alcança. Inclui, a seguir, os recursos do subsolo. Mas ela lhe responde que não é de servir a dois senhores, ao mesmo tempo, pois se trata de uma acumulação ilícita de funções.
- Liga a um praticante de roleta russa para demovê-lo do tresloucado ato. O pobre diabo põe mais cinco balas no tambor do revólver e livra-se, para sempre, do vício e da religiosa.
- À noite, Irmã Letícia, que abandonou o cilício, põe um disco do Beto Barbosa na vitrola. E livra a pele, mas não os ouvidos, um martírio daqueles.

sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A ENTREVISTA DA MOSCA

- Você tem sido acusada de transportar um grande número de germes em suas patas...
- Ah, é? Nunca ninguém contou quantos germes um biólogo carrega nos sapatos.
- E também de viver no lixo.
- Me lixo pra isso.
- Gosta de estar em evidência?
- Isso é com a mosca azul.
- Que acha da expressão "acertar na mosca"?
- Detesto. Principalmente quando estou pousada num alvo.
- Também se amarra em pousar numa careca?
- Sim. A careca do Dr. Ulysses é a minha pista de pouso favorita.
- Soube que a ANC (*) andava às moscas?
- Sim, o seu melhor momento...
- Outra coisa que detesta?
- Rabo de cavalo.
- Ah, você não gosta desse penteado feminino?
- Não, não. Estou falando do rabo do animal... porque ele vive me mosqueando.
- Algum entretenimento, distração etc.?
- Sou muito doméstica. Mas frequento restaurantes, de preferência os conhecidos por frege-moscas.
- Agora, uma palavrinha final...
- Quando você se mosca?
- Não entendi.
- Quando você se manda, ó cara!

(*) Assembleia Nacional Constituinte

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

COM BRINCO NÃO SE BRINCA

Deu-se o acontecimento num barzinho da moda na Aldeota. Minha mulher e eu bebericávamos por lá, quando ela, pondo a mão em uma das orelhas, subitamente exclamou: "perdi um dos brincos". E pôs-se a percorrer com o olhar o chão do barzinho, em busca de uma pequenina esfera de ouro que corresponderia ao brinco extraviado. Ajudada por mim que logo considerei um empreendimento difícil, tantas eram as reentrâncias do piso naquele lugar.
Pessoas das mesas vizinhas passaram a olhar com espanto aquele casal da vista baixa, isto é, nós. Reforçado, depois de algum tempo, pela participação do faxineiro da casa na busca, com vassoura e pazinha à mão. Mas o diabo do brinco não conseguia ser localizado para o crescente desespero de minha mulher, em virtude de ser ele um adereço que tinha importância afetiva: o par de brincos pertencia à nossa filha de dois anos.
Em má hora, minha esposa o tomara "emprestado", por combinar com a roupa com que ia sair.
Procura que procura, o brinquinho acabou sendo encontrado. Pelo faxineiro que nos ajudava, espontaneamente, e que assim se fez merecedor de uma gorjeta. Então, minha mulher tratou logo de recolocar o brinco na orelha, quando lá deixou cair... desta vez, a rosca do brinco. Depois do diminuto, íamos agora enfrentar o diminutíssimo.
Fiquei de fora da nova busca. Enquanto pensava sobre o que poderia esperar de alguém que, dias atrás, perdera uma das lentes de contato. Na verdade, não a perdera, a lente apenas migrara da córnea para um dos cantos do olho, deixando a minha mulher "chorosa" até que o caso fosse por fim esclarecido.
Apesar de estar perdida no mais difícil dos terrenos, a rosquinha do brinco também foi encontrada. Pelo bom ajudante que recebeu de minha parte uma gorjeta complementar - do tamanho inversamente proporcional ao do objeto localizado, a regra era essa. Quanto à minha esposa, esta ganhou um conselho meu: somente usar brincos grandes, de pingente, e que tilintassem em caso de queda.
Não é todo dia que a gente encontra por aí alguém com olhos de lince. Vai ver capaz de enxergar até um micróbio de caspa.