sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A POESIA É NECESSÁRIA

É-me necessária (preciso particularizar).
Em pequeno, ouvi a mãe cantar uma balada metafísica. O começo, talvez.
Ou foi quando o pai compôs uns versos de pé-quebrado?
Ele ainda tem aquele calo ósseo, mas como dói.
Minha estreia: "Ode a 29 de Fevereiro".
Todo poeta é bissexto até que prove o contrário.
E como é fácil prová-lo!
De herói infante a hierofante. Todo mundo é bom, todo mundo evolui.
Aprendi que para poetar existe o sublime e o prosaico.
O sublime, ah, o sublime, é supimpa!
Enquanto o prosaico às vezes pede uma limpa.
E um epigrama vale o quanto pesa?
Um dia, fiquei sem fôlego para recitar um alexandrino. Fui - solução lógica - a um otorrino.
"Fosse ao campo das lobélias", ele foi peremptório.
Um récipe é um récipe é um récipe, e pronto!
Os poetas não se dão bem, dizem, mas eu já morei com um espécime.
De paredes-meias, graças a Deus.
Ele era alvar, refinado como o açúcar e praticava a vivissecção.
Ensinou-me a fazer albas para o anoitecer.
Porém, era um derruído. E, felizmente, sua casa também ruiu.
E daquele cone de sombra restou o meu gosto pelos eclipses.
Lua, lua moondana.
Por ocasião do lançamento de minha "Ode a 13 de Agosto", recebi a tão aguardada carteira de poeta oficial.
E resguardei-me da crítica insensata numa gaiola de Faraday.
Poeta federal, hein, com direito a tirar ouro do nariz.
Em caso de distanásia, asseguro uma imorredoura pensão a Paulo Gurgel Sênior, meu pai.
De um discurso sobre o método: o contrasenso é sempre mal d/ivid/id/o.
Não sou frequentado por pesadelos, não sou K.fk.
Eu sou (danem-se, irmãozinhos) a um só tempo crispação e serenidade.
E viva a poesia-imprecação porque fere os tíímpanos.

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