sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

PILEQUES E PILHÉRIAS

Quando o hollywoodiano Humphrey Bogart disse que "a humanidade estava duas doses abaixo do normal", consideraram o assunto encerrado em matéria de tiradas. Não mesmo: alguém, na maior cearensidade, tempos depois levantou o copo, dizendo: o trago é o que tira o travo da vida.
Esse alguém foi Pingaleão, um tipo inesquecível como um logotipo que, se não houvesse sido despejado deste mundo, capacidade de sobra teria para entornar o Proálcool. Ah, como o ar, era-lhe essencial o bar!...
Um recuo à infância. Diferente das outras crianças, Pingaleão não tinha o hábito de comer barro. Preferia lamber cortiças de tampinhas, notadamente as que trescalavam algum odor etílico. E, delas para as espirituosas, foram apenas dois passos, digamos, cambaleantes.
Dentre seus hábitos mais bebe-e-comezinhos constavam: dar preferência aos postes totalmente parados "para fazer água"; dormir com o pé direito plantado no chão "para fazer terra"; e tantos outros, embora de menor lucidez.
Já no plano cultural, sua grande ambição - nunca escamoteou! - era avistar-se com o sociólogo Gilberto Freyre a fim de extorquir do autor de "Casa Grande e Sem Sala" a secreta receita do licor de pitanga. Nunca teve a sorte, o órfão de anjo da guarda!
Uma vez, quando dormia em praça pública, à moda de Noé sob a videira, furtaram-lhe a Cremilda, sua dentadura de estimação avaliada em seis milhões de dólares ugandenses. Outra, foi expulso de um bar por um garçom que não concordou, o carola, com ser Genésio o autor do Sermão da Montanha Russa. Pingaleão e o gênero humano: que decepção recíproca!
Ainda havia o chefe. Além dos diabinhos do delirium tremens, havia o chefe do emprego, fosse qual fosse, sempre o perseguindo. Como o da meteorologia, por exemplo, que o despediu só porque ele redigiu um boletim que começava com "o dia hoje será colonial".
Que o fígado faz mal ao álcool (apud Millôr) todo mundo sabe, mas não foi por isso que morreu Pingaleão. Homem nunca de meias doses, numa terça-feira de carnaval, ao ouvir um "talvez" de uma colombina, ele resolveu se matar. E enforcou-se numa serpentina de salão.

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