sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

E SILVIO SANTOS NÃO VEIO AÍ...

No início do ano, quando ventos favoráveis impulsionavam sua candidatura Silvio Santos a retirou. Disfonia, o motivo alegado. No entanto, a duas semanas do pleito presidencial, o acionista majoritário do SBT, com a voz bem empostada, anunciou o interesse de de reapresentá-la. Aduzindo que agora contava com um time de assessores de primeira, o que não acontecia antes. Essa importância de ter uma boa assessoria, como Silvio Santos inclusive reconheceu, seria para compensar a sua inexperiência em política, administração pública, coisa e tal.
Nesse afã, o apresentador de TV se cercou de alguns pefelistas notoriamente ligados ao Planalto. Lobão, Hugo Napoleão, Gadelha e outros que viram em Silvio Santos uma oportunidade de ouro, quer dizer, uma tábua de salvação. Já que o barco Aureliano Chaves fazia água por todos os lados. E Silvio e os pefelistas, com estes posando de assessores políticos, se lançaram à tarefa de criar uma candidatura de última hora. Contando, numa avaliação inicial, com a desistência do ex-transatlântico Aureliano.
Mas, isto não ocorrendo, foram à cata de uma sigla de aluguel. Encontraram uma boa acolhida no PMB, o balcão de negócios do pastor Armando Corrêa, que renunciou em favor de Silvio Santos, depois de acertados os detalhes da operação. O apresentador voltou então a aparecer nas pesquisas de intenção de votos, embora já houvesse apresentado desempenho melhor. Em verdade, o seu nome não aprecia: o eleitor assinalaria Armando Corrêa para votar em Silvio Santos, aliás, Senor Abravanel (o Senor é meu pastor, nada me faltará), aliás...
O que Silvio não esperava: o PMB de Armando Corrêa não passava de uma autêntica arapuca evangélico-partidária. Por isso, em uma sessão memorável do TSE, o pequeno partido foi julgado em situação irregular, e assim inviabilizou a candidatura do apresentador. E a paz relativa voltou à campanha política. Com a vantagem de que o eleitorado, nos dias seguintes, andou livre do feioso microcandidato, sua ego trip e seus projetos de salvação nacional.
Mas, como Silvio Santos não veio aí, perdemos a chance de ver o Brasil sob sua presidência. A seu jeito, algo mais ou menos assim:
Tudo por dinheiro - O slogan do governo SS, bem diferente do farisaismo e da hipocrisia do "tudo pelo social" do governo anterior.
Cidade x cidade - A acirrada disputa de 4.500 municípios para aumentar a fatia de participação nas verbas federais.
Namoro na TV - Entre o capital e o trabalho.
Roletrando - Um programa de erradicação dos fanhos pela terapia de choque.
Quanto a Porta da esperança, Show de calouros, Isto é incrível e Qual é a música?... bem, deixo à imaginação dos leitores.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

A POESIA É NECESSÁRIA

É-me necessária (preciso particularizar).
Em pequeno, ouvi a mãe cantar uma balada metafísica. O começo, talvez.
Ou foi quando o pai compôs uns versos de pé-quebrado?
Ele ainda tem aquele calo ósseo, mas como dói.
Minha estreia: "Ode a 29 de Fevereiro".
Todo poeta é bissexto até que prove o contrário.
E como é fácil prová-lo!
De herói infante a hierofante. Todo mundo é bom, todo mundo evolui.
Aprendi que para poetar existe o sublime e o prosaico.
O sublime, ah, o sublime, é supimpa!
Enquanto o prosaico às vezes pede uma limpa.
E um epigrama vale o quanto pesa?
Um dia, fiquei sem fôlego para recitar um alexandrino. Fui - solução lógica - a um otorrino.
"Fosse ao campo das lobélias", ele foi peremptório.
Um récipe é um récipe é um récipe, e pronto!
Os poetas não se dão bem, dizem, mas eu já morei com um espécime.
De paredes-meias, graças a Deus.
Ele era alvar, refinado como o açúcar e praticava a vivissecção.
Ensinou-me a fazer albas para o anoitecer.
Porém, era um derruído. E, felizmente, sua casa também ruiu.
E daquele cone de sombra restou o meu gosto pelos eclipses.
Lua, lua moondana.
Por ocasião do lançamento de minha "Ode a 13 de Agosto", recebi a tão aguardada carteira de poeta oficial.
E resguardei-me da crítica insensata numa gaiola de Faraday.
Poeta federal, hein, com direito a tirar ouro do nariz.
Em caso de distanásia, asseguro uma imorredoura pensão a Paulo Gurgel Sênior, meu pai.
De um discurso sobre o método: o contrasenso é sempre mal d/ivid/id/o.
Não sou frequentado por pesadelos, não sou K.fk.
Eu sou (danem-se, irmãozinhos) a um só tempo crispação e serenidade.
E viva a poesia-imprecação porque fere os tíímpanos.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

ERA

... uma mulher tão ciumenta que obrigou o marido a dispensar a secretária eletrônica.
... um gajo (não confundir com gago) tão repetitivo que só presenteava a namorada com rosas rosas.
... um futurólogo tão desatualizado que só predizia fatos passados.
... um tipo tão expansivo que se regia pela Lei dos Gases.
... uma moça tão econômica que não usava perfume quando a "tchurma" estava gripada.
... um cidadão tão desastrado que vivia tropeçando no anjo da guarda.
... um polemista tão radical que tudo quanto escrevia começava a partir da tréplica.
... um cara tão saudosista que seu relógio só marcava outr'ora.
... um empresário com tantos títulos que mais um protestado nem fazia diferença.
... uma dona tão infiel, supercheio de amantes o seu guarda-roupas.
... um homenzinho tão feio que não dava trabalho ao maquiador para representar o Corcunda de Notre Dame.
... um milionário tão mesquinho que ao morrer deixou toda a sua fortuna para as obras misantrópicas.
... um sujeito tão bronco do qual se dizia: analfabeto de pai, mãe e ama-seca.

Publicado no Informativo A Ferragista n.º 86, de outubro de 1986

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

PIADAS DE CRUZAMENTOS

Ainda valem as piadas de cruzamentos tais como: "Cruzou um periscópio com uma cabra e conseguiu um bode expiatório"?
Então, tá.
  • Cruzou um espanador com um balão meteorológico e obteve um condor.
  • Cruzou o vento fresco com a mata virgem e nasceu essa bichinha aí.
  • Cruzou um + com um x e obteve um asterisco.
  • Cruzou uma fita cassete com uma caneta esferográfica e criou uma fita que rebobina sozinha. (*)
  • Cruzou um papagaio com uma paca e obteve um pássaro que fala paca.
  • Cruzou um elefante com uma anta e conseguiu uma elefanta com a tromba "M".
  • Cruzou a Ipiranga com a Avenida São João e alguma coisa aconteceu em seu coração.
(*) Resultado compreensível para os leitores de minha geração.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

PILEQUES E PILHÉRIAS

Quando o hollywoodiano Humphrey Bogart disse que "a humanidade estava duas doses abaixo do normal", consideraram o assunto encerrado em matéria de tiradas. Não mesmo: alguém, na maior cearensidade, tempos depois levantou o copo, dizendo: o trago é o que tira o travo da vida.
Esse alguém foi Pingaleão, um tipo inesquecível como um logotipo que, se não houvesse sido despejado deste mundo, capacidade de sobra teria para entornar o Proálcool. Ah, como o ar, era-lhe essencial o bar!...
Um recuo à infância. Diferente das outras crianças, Pingaleão não tinha o hábito de comer barro. Preferia lamber cortiças de tampinhas, notadamente as que trescalavam algum odor etílico. E, delas para as espirituosas, foram apenas dois passos, digamos, cambaleantes.
Dentre seus hábitos mais bebe-e-comezinhos constavam: dar preferência aos postes totalmente parados "para fazer água"; dormir com o pé direito plantado no chão "para fazer terra"; e tantos outros, embora de menor lucidez.
Já no plano cultural, sua grande ambição - nunca escamoteou! - era avistar-se com o sociólogo Gilberto Freyre a fim de extorquir do autor de "Casa Grande e Sem Sala" a secreta receita do licor de pitanga. Nunca teve a sorte, o órfão de anjo da guarda!
Uma vez, quando dormia em praça pública, à moda de Noé sob a videira, furtaram-lhe a Cremilda, sua dentadura de estimação avaliada em seis milhões de dólares ugandenses. Outra, foi expulso de um bar por um garçom que não concordou, o carola, com ser Genésio o autor do Sermão da Montanha Russa. Pingaleão e o gênero humano: que decepção recíproca!
Ainda havia o chefe. Além dos diabinhos do delirium tremens, havia o chefe do emprego, fosse qual fosse, sempre o perseguindo. Como o da meteorologia, por exemplo, que o despediu só porque ele redigiu um boletim que começava com "o dia hoje será colonial".
Que o fígado faz mal ao álcool (apud Millôr) todo mundo sabe, mas não foi por isso que morreu Pingaleão. Homem nunca de meias doses, numa terça-feira de carnaval, ao ouvir um "talvez" de uma colombina, ele resolveu se matar. E enforcou-se numa serpentina de salão.