sexta-feira, 14 de outubro de 2011

JORGE GEORGE EM RITMO DE DESVENTURA - 1.ª PARTE

Amor louco - ele muito e ela pouco. 
Provérbio
Jorge checou a si próprio (não dizem que o primeiro ego é o ego corporal?) para ver se a imagem estava ótimo. Estava: dos pés às cabeça. Faltava só retocar a mecha de cabelo que caía sobre a testa, vulgo pega-rapaz, pronto, para que ele agora tocasse a campainha do apartamento de Petúnia. Oito, cinco, sete, dois, três, um, seis, quatro... triiim. Ah, Jorge George está nervoso. Por isso, não reparem na contagem regressiva que ele acabou de fazer.
Jorge e Petúnia: de algum tempo se conheciam, mas ainda não eram íntimos. Perita em artes venusianas, a moça já havia despachado três anginosos para o além, Jorge não sabia disso. E mesmo que soubesse, ele não pularia fora. Logo mais, o tão aguardado programa a dois deveria acontecer e, benza deus, que outros depois acontecessem. Anginoso? Não, não era. E para matá-lo só mesmo com o recurso do fio desencapado na banheira.
O olho mágico do apartamento de Petúnia fora instalado ao contrário. Através dele Jorge espiou a voluptuosa moradora. Ela vinha vindo bela como nunca, como se fosse Vênus, a Calipígia, para lhe abrir a porta. Enquanto ele, lá fora, era um fauno que mal se continha nos cascos, perdendo até a noção comercial do tempo. Quem já deixou táxi parado marcando hora sabe o que estou a dizer.
Aberta a porta, Jorge a desarmou de uma tramela e abraçou-a com uma sofreguidão - sem retorno! Em seguida, houve uma espécie de interlúdio, que consistiu de uma sequência de corridas que eles fizeram, em torno de uma mesinha de centro, no sentido dos ponteiros do relógio. Até que a fêmea se deu por capturada. E, como sempre faz quando quer mostrar que é senhor de uma situação, ele rasgou (já na primeira tentativa) a lista telefônica de Barroquinha.
Notou também que ela estava mais baixa que de costume.
- Por que não está de sapatos altos?
- Não consegui subir neles.
- OK, então vamos.
À saída, ainda foi preciso desarmá-la de uma faca de furar porco.
Lá fora, o táxi em que ele viera aguardava o casal. Marcando hora parado. Por um problema na pinceleta da grampola, o carro de Jorge se achava numa oficina e ele esquecera o endereço.
Mergulharam no táxi, não tinham tempo a perder. Jorge George deu o nome de uma churrascaria da zona oeste da cidade, muito conhecida pelas promoções de espetinhos.
O motorista tinha a barba amanhecida (embora fosse noite) e os ombros resolutos. Ele sopesou o primeiro detalhe; ela, o segundo.
Na Míster Rau, por pouco, não atropelaram um motoqueiro.
Jorge cutucou o taxidermista (este nome é ótimo):
- Ei, você não viu?!
O outro preferiu apontar para um adesivo colocado no para-brisa do táxi. Onde ele leu: EU RESPEITO JAMANTA. Sem discussão.
(a continuar)

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