sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

CONTINENTE À DERIVA

Relatório da NASA, recém-divulgado, (1) dá suporte à teoria da deriva dos continentes, segundo a qual essas extensões de terra (que flutuam sobre o magma em estado de fusão) estariam lentamente se deslocando. Descobriram os cientistas que o continente americano vem se afastando da Europa e da África e que, como consequência disso, o Oceano Atlântico se alarga 1,8 centímetros, anualmente.
Quem primeiro formulou a teoria, recebida com risível visível descrença pela comunidade científica, foi o sábio alemão Alfred Wegener. E, por muitos anos, a teoria wegeneriana das placas tectônicas (ou das placas teutônicas, em consideração à nacionalidade do sábio) não passou disto: teoria; mas, em face das recentes medições efetuadas pela NASA, pode-se afirmar, já: a ideia de Wegener emplacou.
Nessa altura, Monroe - o que restou dele - deve estar dando inhos pulos em seu mausoléu. Sua doutrina política - a América para os americanos - recebe, enfim, o aval da geodinâmica. Mas... aumenta o fosso entre o Velho e o Novo Continentes, alguém contradirá. Fossilismo. Como se o Oceano Atlântico, incontinênti, não cobrisse o fosso com águas tomadas de empréstimo ao mar do Japão.
Comprovada a teoria, interessa, agora, cogitar que mudanças acontecerão no século-a-século do continente vespuciano.
Nos Estados Unidos, para entabular conversa. Neste país haverá protesto da influente comunidade judaica. Esconjurarão a nova diáspora. Mas será a vez dos fóbicos (aproveitem, aproveitem), já que os aviões comerciais farão a rota Los Angeles - Honolulu apenas taxiando. Quando? Na era pós-Reagan (que tem o valor de um Cibazol para o dito-cujo).
Já no México, na esteira de uma interpretação errônea do boletim da NASA, se bem que por curto tempo, haverá uma grande euforia (descabida, saberão depois). "Enfim safamo-nos do tacão norte-americano!". Mas qual! O continente se move como um todo. E no México continuará tudo como dantes: "tão longe de Deus e tão perto dos Estados Unidos". (2)
Quanto ao Canadá é um caso à partilha. Seis milhões de franco-canadenses, ao frigir dos ovos, tentarão fundar o chez-Canadá. Pé não dará. Uma saída à francesa não funciona bem quando é para inglês ver.
Desçamos à porção sul do continente vespuciano.A Colômbia será uma só torcida organizada. Pelo desgarro  da América do Sul de sua xará Central. Com um pouco de sorte - clivando-se o continente no istmo panamenho - poderá reaver alguma parte do Panamá que outrora foi seu. Não vejo bem a Argentina na bola de cristal. Mas poderá, se houver general bêbado na Casa Rosada, ir à tréplica nas Falkinas. Com a coragem adquirida na distância - que aumentará - com relação à Grâ-Bretanha. Porém, não esqueçam os hermanitos que "a história é uma velhota que se repete".
E o que acontecerá ao Brasil? Com este país que, no concerto entre as nações, é o décimo violino?
Primeiro, nossas casas se moverão um inho pouco; os cartório de imóveis, idem; e o BNH, idem com impertinência. Segundo, adotaremos nas relações exteriores o magmatismo (de magma) irresponsável, que é mais condizente com a nossa índole. Terceiro, será ampliado o mar territorial brasileiro, mas isto em decreto ultra-reservado para que a Bolívia e o Paraguai não ponham mau-olhado. E, quarto, sentiremos enjoos irrefreáveis e crescentes. Serão enjoos de terra móvel. Quando do futuro clímax, o Excelentíssimo Sr. Andremaluf, o Vomífico, o Presidente Indireto da República, (3) comparecerá na televisão em cadeia (epa!) para mais um... blá-blá-blá.
E haja Brasil! (4)

(1) Obviamente antes de 17/06/84, a data em que este crônica foi publicada no jornal "O Povo".
(2) Esta frase é genuinamente mexicana.
(3) Errei nesta previsão.
(4) No original era: E haja Plasil! A frase foi alterada por José Raimundo Costa, editor do jornal na época da publicação.

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