sexta-feira, 16 de abril de 2010

CARTA AO JÔ - 3

Caro Jô:

Eu tenho notado que os textos lidos por você, nos últimos tempos, são apenas os que aí aportam através de fax. E não através de cartas, como costumava ser. É possível que estas até estejam a ser rasgadas ou incineradas para que não cheguem à sua mesa.
Desculpe o trocadilho mas, em seu programa, epístola agora só tem vez com pistolão. É mágoa com algum carteiro? Justamente agora que temos um CEP novo. É pinimba com algum filatelista? Ou é aquela impressão de que o fac-símile, vulgo fax, aprimora a qualidade do que foi escrito?
Ora, Jô, a carta não existe para humilhar ninguém. Apresenta um passado glorioso que remonta aos mensageiros da Grécia antiga. Conheceu dias de esplendor nas mãos de Madame de Sevigné. E muitas delas, como as que foram trocadas entre Monteiro Lobato e Godofredo Rangel, alçaram à condição de livros.
Uma carta, entre outras qualidades, pode vir impregnada do perfume da mulher amada. E o fac-símile nem de perto acena com essa possibilidade.
Ah, quanta verdade tristonha ou mentira risonha uma carta nos traz! A própria Bíblia não seria a mesma sem elas. Já pensou se Paulo tivesse apenas passado um fax aos coríntios? Além disso, foi escrevendo uma carta-testamento que Getúlio Vargas saiu da vida para entrar na História.
Não é o fato de um texto ser veiculado através de fax que o torna digno de ser lido. Se algo merece ser lido, ilustrado por seus pertinentes comentários, é porque deve ter conteúdo. E o que ora escrevo tem de sobra.
Pois é, Jô, leia - em público - esta carta. Quanto ao conteúdo, fica para a próxima vez.

Cordialmente,
Paulo Gurgel

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