domingo, 19 de abril de 2009

O PACTO

Pacta sunt servanda. Os pactos devem ser cumpridos.
Num albergue postado no caminho de Málaga achavam-se dois cavaleiros andantes. Era sexta-feira, dia em que os paladinos não andavam à cata de aventuras, porque nesse dia da semana descansavam os mouros. Sem mouros com que pelejar, não havia muito o que fazer. Só pernas pro ar, que de ferro já bastava a armadura de cada um.
Damiano e Cosmião chamavam-se. Formavam uma dupla inseparável, na base do "só-vou-à-liça-se-você-for" (mesmo porque o rocim era único). Batendo-se contra o inimigo comum, Damiano se expunha para proteger Cosmião; este, por sua vez, não ficava atrás e fazia o mesmo com relação a Damiano. A única - e não honrosa - exceção foi quando tiveram pela frente Conan, o Bárbaro. E isto porque nossos herois ficaram escondidinhos como lagartos. Em duas palavras, deu Itararé.
O bate-papo estava assaz medieval, quando Cosmião introduziu uma ideia caprichosa. Mudando do vinho para a água, como observou um aldeão que depois virou mosto. Cosmião, a voz estentórea para que o amigo bem o ouvisse, falou:
- Nossa amizade, ó Damiano, não padece dúvida. Contudo, deveríamos vitalizá-la através de algo assim como... um pacto de sangue.
- De onde tiraste tal ideia, amigo Cosmião?
- Bem... alhures, os cavaleiros leais assim procedem.
- Ora, o rosário de nossas pelejas contra meio mundo já é a prova cabal da lealdade de um para com o outro. Então, para que o pacto de sangue?
Pequeno desencontros entre os dois amigos por vezes ocorriam. Mas que eram resolvidos com uma curta oração do "Breviário do Cavaleiro Andante", que um puxava e que o outro respondia:
- Cada um quer dar a vida pelo outro.
- Só não o conseguindo pela incompetência dos adversários.
- Amém. 
Até que houve a aquiescência de Damiano. Afinal, o rito de sangue proposto por Damião não era algo completamente esquipático. Para quem já se encontrava na "ônzima" caneca de vinho, minha senhora, pelo menos não era.
E Cosmião fez o celebrante:
- Vê, Damiano, coloquei minha mão sobre a távola. Agora, com a palma de tua mão cobre o dorso da minha para que, em seguida, eu as transfixe com o punhal. O sangue ao correr selará a nossa eterna amizade. Ou vais correr tu?
Damiano não correu. Porém, não suportou bem ver o "sangue do seu sangue" a correr da mão cravada pela lâmina. E fez uma séria acusação contra o amigo: que Cosmião agira em benefício próprio, botando a mão a jusante para pegar menos punhal. Mas isto não tem a menor influência, torquiu Cosmião, tem, retorquiu Damiano. Nesse tem-não-tem, Cosmião acionou o punhal novamente. Só que, desta vez, no coração do pobre Damiano.
Morto Damiano, Cosmião deu às de vila-diogo. E passou a vaguear pelas faldas de Sierra Nevada. A mão ferida, pensada com unguentos de rosmaninho, sarou logo. Mas... o que são os desígnios das Fúrias (as deusas romanas da Vingança), minha atenta senhora. Algum tempo depois, o errante cavaleiro Cosmião adoentou e morreu. De icterícia catarral, um mal a ver com o sangue do pacto.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

UM ESQUELETO PARA MICHAEL JACKSON

O cantor Michael Jackson, já conhecido por suas extravagâncias, arranjou mais uma. Ele quer montar uma câmara de horrores em sua casa de Los Angeles. Quer uma câmara toda repleta de crânios e esqueletos disformes assim como uma biblioteca de compêndios médicos sobre doenças estranhas. Para completar a tétrica coleção, está lhe faltando, porém, o mais ambicionado troféu. O esqueleto de John Merrick, o homem-elefante.
Os restos mortais de John Merrick não se encontram num campo-santo qualquer. Tampouco num cemitério de elefantes. Repousam num hospital de Londres, onde se prestam ao ensinamento médico. Quer dizer, não repousam. O esqueleto é famoso por suas grandes deformidades. Uma coluna vertebral retorcida que sustenta (haja Atlas!) um crânio descomunal. Muitas outras alterações também enfeavam o pobre John Merrick. No entanto, por terem sido das partes moles, voltaram ao pó.
Um milhão de dólares não fez com que o esqueleto humano mudasse de proprietário! Perdão, de intermediário. E olhem que o hospital londrino tem sérios problemas de caixa. Está no osso. Mesmo assim não vende os restos de Merrick. Principalmente para Michael Jackson que os deseja ter para o seu deleite. Como a um brinquedinho articulado. Não são ossos de borboleta (ninharia) a soma oferecida pelo cantor, mas o hospital não vende o esqueleto. Razões morais são alegadas.
O esquésito (a palavra existe) Michael Jackson está para ler de "Merrickesh"! Será que ele deseja fazer o Príncipe Hamlet, o craniólogo, em sua tragédia de dúvida e desespero? Androginia dá dúvida, mas desespero só às vezes. Ou será que ele pretende copiar da pretendida ossatura apenas um novo passo de discothèque? Pois, literalmente, JM é espelho de MJ. Nesta hipótese, fãs do mundo inteiro, sacudi-vos! Nada tendes a perder, senão o vosso suor! Michael contasse com o esqueleto, então o balanço seria tremendo.
Imagino que um anjo torto, desses que vivem à sombra, haja lhe aparecido e dito: "Vai, Máiquel, ser musicólogo na vida..." E Michael Jackson foi sê-lo, só que no Museu da Teratologia. O museu, ô Michael, se ainda não tem o horrífico estandarte, eu aproveito para sugerir um deles. Um que tenha uma caveira a encimar duas tíbias cruzadas. Não, MJ, os velhos bucaneiros não cobram direitos autorais.
E quem não se recorda de Michael Jackson em seu videoclipe mais famoso? No qual ele aparece dançando ao lado de hediondas criaturas da noite, recém-saídas de suas tumbas etc. É Michael Jackson em seu elemento. E quem não sabe de seu hábito, meio believe it or not, de dormir numa esquife hiperbárica? Como se isso lhe prolongasse a vida. Pois bem, qualquer semelhança com o hábito de um certo conde da Transilvânia não é mera coincidência...
Dear Michael Jackson: Venham de lá esses seus ossos que eu quero apertá-los. Mas... se, numa dessas contorções que você tanto gosta de fazer, o seu esqueleto, vai, assume uma posição bem bizarra de não mais voltar ao normal, hein? E, tempos depois, aparece outro excêntrico querendo comprá-lo, hein, hein?
Já sei, meu tangará, são os ossos do ofício.

quarta-feira, 8 de abril de 2009

IMPAGÁVEIS DO PG - II

NO MAR DAS CONTRADIÇÕES
É onde o afogado ganha vida nova.
NÃO PODEM SER POSTOS DE CABEÇA PARA BAIXO
Alguns idealismos. Porque caem as moedas dos bolsos.
AGUENTE OS TRANCOS
Que os barrancos desmoronam.
PASSATEMPO SINCRETISTA
Matar as moscas com um jornal enrolado.
JONAS ENGOLIDO PELA BALEIA
E nós, os crédulos, pela balela.
PENSAMENTO ANTA
Ninguém governa a governanta.
SOBRE O DIREITO DE IR E VIR
Olhai os bumerangues da Austrália.
LEI DA PISTOLAGEM
Todo homem tem seu preço... de liquidação.
A HISTÓRIA DO PATINHO FEIO
Não passou de um erro taxonômico.
ESPERANDO GODIVA
Coventry era uma fresta!
A RATOEIRA É TAMBÉM CAPAZ
De fazer o gato passar maus momentos.
CONTRA-INDICO
Aspirina na febre de consumo.
CLUBE DE XENÓFOBOS
Com ramificações no exterior. Funda-se.
UM MAS...
Esses elogios com "mas".
E CANTAM AS SIRENAS
Fora da tábua não há salvação.

terça-feira, 7 de abril de 2009

IMPAGÁVEIS DO PG - I

TODAS AS PROFISSÕES SÃO IMPORTANTES
Portanto, o faroleiro não faça farol.
CÚMULO DA TRAGÉDIA
Ir de Challenger para Chernobyl.
"CHEGAR AO MÁXIMO DE BELEZA COM O MÍNIMO DE MATERIAL"
Otto Lara Rezende? Ou a esteticista que criou escola?
ADULTÉRIO DE SULTÃO
É com o harém alheio.
CONSELHO QUE DARIA A UM JOVEM POETA
Sê fecundado pela poesia mas, oh, não desoves aqui.
ROCKRÍTICA
Vai para o conjunto de rock que se preocupa em criar o guarda-roupa antes do som.
NÃO DISCUTA COM QUALQUER UM
Mas apenas com o magarefe, que não radicaliza.
PASSIONAL
Nunca dê esse passo.
"DEEM-ME UMA ALAVANCA E EU ERGUEREI O MUNDO"
Grande coisa, Arquimedes. Atlas faz isso o tempo todo e.... sem alavança, tá sabendo?!
GARÇOM
Uma pérola em minha ostra!
SUCESSO NÃO É CAVALETE
Mas precisa dos pés no chão. Bem firmes.
ESSE AEDES
Só falta agora transmitir a AIDS.
BIRITA
Para quem de frio titita.
A POLÍTICA MORA NO MUNDO
Mas dá o enedereço errado para a Moral.
GUERRA, NUNCA MAIS
Não quero ver Guernica bombardeada num museu.
AS UVAS ESTÃO VERDES
Os desejos podres.
E PORQUE EU NÃO ERRO UMA
Sou presentólogo.