segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

UM JARDIM ZOO-ILÓGICO

O desinteresse pela vida animal é geral. Cidades de razoável porte, como Fortaleza, não se dão mais ao barato de ter um zoológico. Foi-se o tempo da procura pelo “segundo maior espetáculo da Terra”, no dizer de Arrelia, um palhaço que ficou no desemprego depois que o circo pegou fogo.
Fui criança, como a maioria das pessoas (a maioria, porque já houve uma exceção: Dom Pedro II), e recordo-me do fascínio que o zoológico despertava em minha alma infantil. Fortaleza, dos anos 50, estava à altura do Rio de Janeiro (ao nível do mar) ao apresentar, no Parque da Criança, uma permanente exposição da vida animal selvagem.
Verdade, não era um zoo completo. Tinha lá suas deficiências: a preguiça, por exemplo, que morrera de um mal lentíssimo, em seu lugar haviam botado por muito tempo um zelador em regime de horas extras.
Hoje, nem isso. Fortaleza, carente de um zoológico, transmite a impressão de que nos quinto e sexto dias da Criação houve ponto facultativo... para Deus. Urge, portanto, que algum órgão municipal encampe:
1°) a mini-ideia de um jardim zoo-lógico.
2º) a maxi-ideia de um jardim zoo-ilógico.
Levando esta última a efeito com os seguintes seres:
O Dragão – Na qualidade de sparring já fez a glória de muito cavaleiro andante que queria impressionar sua donzela. Hoje, porém, em via de extinção (dragão, cavaleiro e donzela). Basicamente, é um animal dócil mas, quando se trata de defender a prole, fica tão fera quanto aquele deputado goiano. Tem como prato preferido o churrasco misto, que ele prepara na própria fuça.
O Basilisco – Lagarto nascido de um ovo posto por um galo e chocado por um sapo, o que explica o seu complexo de Édipo tumultuado. Com o auxílio de sua língua bífida, viscosa, ele passa a maior parte do tempo comendo moscas imaginárias. Sabendo-se que ele tem uma dieta sine matéria, o que ninguém explica é como o basilisco consegue eliminar tantos dejetos. Hércules, que já limpou as estrebarias de Áugias, certamente recusaria fazer faxina na jaula dele.
O Licorne – Animal que lembra um pequeno cavalo, embora dele se diferencie por um cavanhaque à la bode, uma cauda no melhor estilo rococó e um longo chifre no meio da testa. Adora ser montado por um pestinha, digo, um garoto em roupa de marinheiro. Demonstrando isso através de corcovos de alegria, dados antes e depois de fraturar o cóccix de seu pequeno cavaleiro. É proibido de participar de competições hípicas por causa de seu enorme chifre: vence todas, mesmo quando termina com um corpo atrás. Por detestar o milho, a sua alimentação é toda à base de pipoca, canjica, munguzá e papa de maizena.
A Esfinge – Alimária que tem cabeça de mulher e corpo de leão. Anda sempre com uma perguntinha enigmática na ponta da língua. Do tipo: o que é, o que é? De manhã está no PTB, de tarde no PMDB e de noite no PDS? Bem rápido, antes que ela abocanhe sua pessoa, responda à queima-guardanapo: Jânio Quadros.

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