sábado, 23 de agosto de 2008

A COR DO FRUTO

Em 1986, um jovem chamado Fernando Novais, então com 22 anos, nascido na cidade de Jardim e que cursava Odontologia na UFC, estreou literariamente no Ceará com um livro de poesia, "A Cor do Fruto".
Eu o havia conhecido nos circuitos boêmios de Fortaleza, algum tempo antes. Em 1985, talvez. Lembro-me de que gostava de MPB e de que vinha também fazendo poemas para um livro.
Senti-me lisonjeado no dia em que ele, ao me passar os originais de "A Cor do Fruto", pediu-me fizesse eu uma apreciação a respeito. A qual foi parar numa das orelhas do livro, ao ser este impresso. E que, agora, a coloco nesta postagem do Preblog
Nesse livro de poesia, considero que andei em excelentes companhias. Com Carlos D'Alge, que o prefaciou, e com Joaryvar Macedo que escreveu a outra orelha.
(Por falar em Fernando Novais, onde andará o amigo poeta?).

Não pretendo, neste espaço disponível, realizar uma análise estilística acabada da poética de Fernando Novais (FN), em "A Cor do Fruto", obra literária que ora se materializa. Meu propósito, bem mais modesto, é chamar a atenção do leitor para certos aspectos da técnica literária que o autor emprega neste livro, assim como para o seu temário.
1 - o som: de seus versos de metro espontâneo. Além de rimas FN usa, à saciedade, outras combinações sonoras como o eco e a aliteração. Linguagem sendo igual à massa sonora. Deste modo, frases e palavras são sacrificadas no altar da metáfora. O nocional pelo imagístico. É o perde-ganha da poesia.
2 - a denúncia: sobre o mundo desigual, o pensamento automatizado, a guerra, os seres sem pretexto, a inanição do sentimento, a hipocrisia etc. Usando apenas de expressões contidas (e evitando o chamado "texto sujo"), FN "dá uma geral" sobre a vida, seu balanço canhestro. E suas conclusões são irônicas e, por vezes, imprevisíveis.
3 - o ludismo: de quando o poeta cultua o instante, o descompromisso, o aqui-agora. & brinca com a ambigüidade das palavras & revisita os adágios já gastos & revolve o cancioneiro patropi. De quando o poeta, anarquicamente quase, cola os fragmentos de sua mundivivência. Coisa com qualquer loisa. & a geléia é geral.
4 - o corpo: "mais uma necessária montaria / do que ideal companhia", tal como é rotulado pelo poeta. Que, como qualquer homem, sofre as agruras da condição humana (ser matéria descartável é uma delas). Contudo: haverá um "eu" eterno, aderido ao "eu" percível? Não sei a resposta definitiva. Só sei que FN, vez por outra, bota as asas de "anjo contrário" e... ganha altura.
Não existe arte senão para outro e por outrem. Saboreemos, pois, as essencialidades de "A Cor do Fruto", de Fernando Novais.

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